O CAMINHO DA CULPA – Capítulo 9 – Caminhos da Evolução

Quando uma pessoa pratica um determinado ato do dia a dia e outra pessoa reclama desse ato, dizendo que está errado, estamos diante de uma acusação que muitas vezes pode gerar um problema ao qual muitos denominam culpa.

A culpa é a consciência de ter praticado um ato que não condiz com as expectativas dos outros. Toda vez que alguém age e cria a expectativa de saber se aquele ato está de acordo com os costumes da comunidade, com as leis ou regras estabelecidas por grupos religiosos e diversas outras normas, surge a culpa. Normalmente ela começa quando alguém acusa a pessoa de estar agindo fora das regras mencionadas. Diante disso, a pessoa sente remorso por ter feito algo errado e pode buscar ajuda para se redimir ou se recuperar do erro. Quanto mais ela forma uma consciência de que seu ato foi errado, maior a sua culpa, o que pode levá-la a cometer outros atos, estes, fora da harmonia, gerando consequências imprevisíveis.

A crítica feita por uma pessoa a outra, de que seu ato foi inadequado, geralmente decorre da vontade de estabelecer que aquela conduta específica não está de acordo com seu modo de pensar. Por isso, o objetivo é fazer a outra pessoa consciente de seu erro e gerar sentimento de culpa como consequência. Sentir-se culpado leva a pessoa a se martirizar e, assim, neutralizar suas ações futuras, garantindo que não vá contra as “regras” impostas pela pessoa que fez a crítica.

Com relação àqueles que criticam, é possível concluir que tudo o que uma pessoa vê de errado em outra é reflexo de suas próprias ações. Os atos da pessoa criticada nada mais são do que um reflexo das atitudes da pessoa que critica. Quando alguém critica outra pessoa, é simplesmente porque quer desviar a atenção de sua própria conduta, que é exatamente igual àquela que está criticando. Neste momento, forma-se um espelho para que o crítico possa refletir e examinar suas próprias ações e conduta. Impor ao outro é querer se ocultar dos próprios erros.

A fagulha divina que existe em cada individualidade é extremamente livre para praticar qualquer ato que seja. Os atos praticados vão revelar qual o resultado gerado por eles, uma vez que todos os atos deixam uma resposta, tal como a lei da ação e reação: “Toda ação sempre tem uma reação oposta e de igual intensidade”.

A reação vai indicar se aquele ato foi ou não importante para aquela ocasião. As reações têm o condão de indicar se é possível praticá-la novamente sem que a reação formada seja desagradável. É preciso considerar que toda reação, com fundamento na lei da evolução, tem por base a educação para um comportamento melhor em relação à harmonia.

Como já mencionamos, a reação tem como objetivo informar à individualidade se tal ato está ou não de acordo com a lei da harmonia. A individualidade poderá escolher praticá-lo novamente ou não, isso está implícito no sistema educacional para desenvolver a evolução correta de suas atitudes. Muitas vezes, a reação leva a individualidade a mudar a maneira como pratica o ato que a gerou. Se a individualidade persiste na prática do mesmo ato, é porque ainda não aprendeu que não deve ser repetido e continuará a praticá-lo até perceber que tal atitude não lhe trará paz.

É importante observar que cada momento revela a capacidade de entender o caráter educativo do ato realizado, isso por meio da reação a ele e suas consequências. O aprendizado consciente começa com a aquisição do livre-arbítrio e, aos poucos, vai se aprimorando e elevando cada vez mais o patamar do conhecimento. Quando a individualidade entende que muitos dos atos feitos no passado não deveriam ter sido praticados, aprende que sua realização não está de acordo com a lei da harmonia; porém, todos eram necessários para concretizar o aprendizado com aquela oportunidade.

Por causa da liberdade de que dispõe a fagulha divina, qualquer ato praticado não pode ser considerado, pela outra individualidade, como um erro. Quando se considera um erro, a individualidade está fazendo um julgamento e isso não deve ser o comportamento de nenhuma individualidade, pois o julgamento é sempre feito com base no nível de evolução do julgador. Cada ato representa para a individualidade o nível em que ela se encontra em sua evolução. Cada individualidade realizará os atos necessários de acordo com sua capacidade evolutiva, por isso não é correto fazer julgamento quando se trata de atos de outra individualidade.

Cada individualidade tem a necessidade de realizar atos dentro do seu nível evolutivo. Por isso, um ato que para um parecer errado, para outro é considerado normal. É dessa forma que o aprendizado ocorre. Não cabe a uma individualidade dizer à outra como realizar seu ato, pois dessa forma ela não efetuará o aprendizado. E, na primeira oportunidade, voltará a praticar o ato proibido.

É muito difícil hoje em dia aceitar determinados comportamentos, mas eles são necessários. Muitos que recebem um ato que os faça sentir-se machucados têm a necessidade de que isso ocorra para que também possam fazer o seu aprendizado através dele. Nenhuma individualidade receberá atos que a ferem sem que tenha a necessidade deles para o seu aprimoramento, portanto cada individualidade passará pelas situações necessárias para o seu adequado aprendizado. Quando uma individualidade recebe um ato que a prejudica, é exatamente a resposta de um ato seu praticado no momento ou em uma vida anterior na vestimenta carnal.

O mecanismo do campo energético é o coordenador de todos os acontecimentos que ocorrem com a individualidade. Esse mecanismo vai direcionar as individualidades na busca do que é necessário para que tenham exatamente as respostas dos atos que têm praticado, com a finalidade do aprendizado evolutivo.

A individualidade tem total liberdade para praticar qualquer ato que deseje, com a finalidade de experimentar o resultado. Esse resultado irá informar-lhe se aquele ato está ou não em conformidade com a lei da harmonia. É importante lembrar que a individualidade foi constituída com o objetivo de se aperfeiçoar ao longo da jornada de experiências encontradas em sua existência.

Ela traz consigo toda a potencialidade do Criador. Sua constituição é feita através da união com a matéria, para que possa dar seguimento à expansão do Criador. Como o Criador é um espírito puro, será necessário que a individualidade também possa se tornar assim e, para que isso ocorra, é necessário que ela se desvencilhe da matéria que a ajuda a se expandir. O desvencilhamento ocorre através das experiências efetuadas pela individualidade durante sua estada na matéria. Aqui, trata-se da matéria tal qual ela é constituída, iniciando na densidade e rumando para a sutilidade.

A matéria que suporta a fagulha divina, no início da caminhada evolutiva, impede que a individualidade tenha consciência de que a potencialidade do Criador está dentro de si. Para que essa consciência apareça, a individualidade vai praticar atos conforme determinado pela dinâmica universal. Nada é estático, tudo se move. Sendo assim, a individualidade deverá sempre procurar fazer atos que a levem ao aprendizado do equilíbrio, ou seja, aprender a agir de acordo com a lei da harmonia.

As limitações no conhecimento, de sua capacidade de perscrutar a sabedoria do Criador que está em estado latente dentro de cada uma das individualidades, serão superadas durante sua existência como tal. Conforme vai praticando os atos que se moldam de acordo com a lei da harmonia, o seu conhecimento vai se ampliando e a cada nova experiência ocorre o acúmulo da capacidade de ver dentro de si a potencialidade do Criador.

Depois de um determinado período de experiências, a individualidade vai saber como age consigo e com as demais individualidades. Desta forma, a individualidade poderá ir percebendo a grandiosidade do Criador em não julgar nenhum dos seus atos, pois todos foram necessários para o aprendizado. Quanto mais ocorre a evolução, maior a capacidade de agir dentro dos ditames da lei da harmonia.

Assim como o Criador não julga ninguém, a individualidade também não deve se sentir culpada por algum ato que tenha efetuado, mesmo que não esteja de acordo com a vontade de outra individualidade. Toda prática de atos do dia a dia é necessária para a continuidade de sua existência como tal e para o desenvolvimento de seu aprendizado, cujo aprendizado a fará mais conhecedora daquilo que existe em sua constituição esteiada na potencialidade do Criador.

É importante começar a aprender que tudo o que existe é obra do Criador e, portanto, tudo deve seguir o caminho da busca da perfeição, tal como a razão pela qual foram criados. A existência de cada individualidade gera comportamentos específicos que fornecem aprendizado para alcançar a perfeição desejada. Portanto, a geração de seu comportamento está dentro da necessidade educativa e, assim, nada é indesejado ou digno de arrependimento, pois tudo tem uma finalidade: o aprendizado que é importante para todas as individualidades, desde o praticante do ato até quem o recebe.

Ao assumir a culpa, a individualidade traz para si o estigma do erro, que a aprisiona e a torna refém da negatividade de conduta. Assim, ela invalida sua liberdade de ação, promovendo uma eterna autocensura pelo que fez, tornando impossível repetir o ato caso seja necessário para seu aprendizado. Uma vez que o Criador não censura nenhum ato da individualidade, ela deve agir de acordo com sua vontade, pois esta faz parte de uma engrenagem que leva todas ao encontro do que é necessário.

Nenhuma individualidade é capaz de julgar se o ato praticado por outra está correto ou incorreto, uma vez que somente a própria individualidade que o realizou pode fazer essa avaliação. Cada indivíduo pratica o que considera ser certo, e é ele mesmo que irá perceber se a ação praticada é positiva ou negativa ao observar suas consequências. Dependendo do seu nível de evolução, ele será capaz de determinar se aquela ação está alinhada com a harmonia ou se vai contra ela, pois cada indivíduo interpreta o estado da harmonia de acordo com sua capacidade de tomada de decisão adquirida ao longo da vida.

Certa feita pude verificar pessoalmente como uma individualidade interpreta o certo e o errado. Vejamos: um homem entrou numa casa e retirou alguns objetos. Foi preso e, no dia do seu interrogatório no Fórum local, o Juiz lhe perguntou sobre o que tinha feito. Prontamente respondeu que entrou naquela residência com o intuito de retirar alguns objetos para vendê-los posteriormente, com a finalidade de pagar uma dívida contraída perante um mercado. O Juiz pediu que lhe dissesse o que pensava sobre o seu ato e como agia para realizar aquele furto. Ele respondeu prontamente ao magistrado: “Eu planejo muito bem antes, vejo quem mora na casa, qual o horário que saem e fico na espreita. Quando percebo que não há ninguém na residência, faço uma oração para que Deus me proteja contra qualquer possível agressão do dono da casa. Caso haja a agressão, serei obrigado a matá-lo, por isso faço a oração para que nada de mal aconteça comigo e com o dono da casa”.

Para este ladrão, o ato de furtar objetos de uma residência é normal, ele ainda não se conscientizou de que aquilo lhe trará uma resposta como a que já estava ocorrendo. Foi preso e possivelmente será encarcerado. Se todo esse trâmite judicial o convencer de que aquilo lhe trouxe prejuízo, ele não mais repetirá o ato, mas se a resposta não for suficiente para conscientizá-lo de que se apossar do alheio não é uma boa ação, ele continuará fazendo outras ações até que uma delas, deixando uma resposta mais contundente, o fará desistir dessa prática.

É importante saber que apenas a resposta aos atos praticados servirá para que o praticante possa entender o seu caráter educativo. Ele não mudará o seu comportamento enquanto não sentir na pele o resultado de seu ato. Para que uma individualidade possa compreender o caráter educativo da resposta ao seu ato, muitas vezes terá que sentir a dor que pode ser representada por um sentimento ou por uma doença que a gerem.

O começo da educação inicia-se em termos mais brandos e vai subindo na escala até que alcance o resultado desejado. Quando a individualidade não consegue alcançar o resultado esperado, ela pode, em última instância, recorrer à desistência de continuar com o corpo físico, caso do suicídio que pode ser perpetrado de diversas formas, desde uma ação contundente até o uso de drogas para que o objetivo seja alcançado lentamente. Uma das formas mais comuns é a aquisição de uma doença incurável, como o câncer.

Desta forma, afirmamos que a culpa não vai servir de gatilho para que a individualidade possa efetuar o seu aprendizado, o que ocorrerá somente com a resposta dos atos praticados no dia a dia. Portanto, a culpa servirá apenas como mais um empecilho para a obtenção do resultado desejado.

A individualidade deve estar sempre ciente de que somente a resposta aos seus atos é que a fará entender o caráter educativo deles, nada mais poderá ajudá-la nesse caminho. Deve sempre estar consciente de que qualquer ato que pratica está dentro dos limites de seu patamar educativo evolutivo. Pratique o ato sabendo dos resultados negativos ou não, nestes casos a resposta deles é que definirá a gravidade da situação.

Assim, a individualidade deve sempre ter presente que a culpa constituirá apenas mais um entrave ao seu aprendizado. Ela não a beneficiará em nada. A culpa deve ser esquecida e o foco deve ser o entendimento de que realizou o ato dentro de sua capacidade de discernimento evolutivo que tinha no momento, arcando consequentemente com o resultado e este vai mostrar a realidade.

Já com respeito ao criticante da maneira como seus atos foram efetuados resta descer do seu pedestal de orgulho e aproveitar esse momento em que aparece o espelho para fazer uma reflexão sobre sua conduta e conscientizar-se de que está presente a oportunidade de agir de forma diferente daquilo que se observa no outro como ação inadequada.

Com relação ao crítico da forma como os atos foram realizados, é importante que você deixe de lado o orgulho e aproveite a oportunidade para refletir sobre sua conduta. É importante ter consciência de que este é o momento perfeito para agir de maneira diferente daquilo que você considera inadequado nos outros. É hora de descer do pedestal e reconhecer a necessidade de mudança em suas ações.

São Paulo, 2024

Caetano Zaganini